The Colour of Magic, Terry Pratchett

DESCOBRIR DISCWORLD 10 ANOS DEPOIS DE TER LIDO O PRIMEIRO LIVRO

Terry Pratchett

Descobri Terry Pratchett há muitos anos. Não me lembro como ou quem me falou dele. Comecei a ler o primeiro livro da colectânea do Discworld e… não percebi grande coisa.

Ao reler o livro e ver as palavras sublinhadas e traduzidas percebi que (graças a deus!) o meu inglês evoluiu muito nestes anos. E percebi porque é que não li mais nada de Discworld depois disso. Sem perceber os puns (trocadilhos) e as piadas, não se apanha grande coisa do livro.

Pelo meio li o “Good Omens“, que é muito mais fácil de ler e muito divertido! E ficou o bichinho para retomar a epopeia do Discworld.

Voltei a ler Terry Pratchett porque li um artigo sobre ele na Penguin em que falavam num livro chamado “Carpet People” (literalmente, O Povo da Carpete) e só a sinopse era incrível! De repente, lembrei-me de todo o absurdo que era o mundo de Discworld, do próprio planeta em si que não faz sentido nenhum e da mala com pernas e do Rincewind (um feiticeiro que não é lá muito bom com feitiços) e deu-me vontade de fugir da minha realidade confinada e ansiosa e mergulhar nesse universo.

Foi uma escolha acertada.

The Colour of Magic, propriamente dito

Terry Pratchett sabe contar histórias e cria coisas disparatadas como ninguém.

Tudo começa quando Twoflower, um turista do continente Counterweight visita Ankh Morpork para conhecer os seus heróis e malfeitores e viver, ele próprio, muitas aventuras. Twoflower é um técnico de seguros que se faz acompanhar por uma mala com pernas e cheia de moedas de ouro. O turista é completamente alheio ao perigo e a muitas outras coisas (sarcasmo, taxas de câmbio, por exemplo!) e mal repara que está a ser levado para uma ratoeira no Broken Drum, uma taverna frequentada pela pior gentalha de Ankh Morpork.

Aí conhece Rincewind e contrata-o como guia. Entretanto, Rincewind é chamado pelo Patrício da cidade e incumbido de proteger Twoflower durante a sua estada em Morpork, para que este chegue são e salvo à sua terra natal e assim manter as boas relações diplomáticas entre as duas cidades. Alguns segundos mais tarde, o Patrício recebe ordens para matar Twoflower… e que comece a aventura!

Há dragões que só existem se acreditarmos neles, uma Morte com sentido de humor, que rouba 1/9 de vidas aos gatos, octarina (a cor da magia) que é basicamente uma espécie de amarelo-púrpura esverdeado fluorescente, heróis de poucas palavras e o resto deixo para descobrirem.

“spell books leak magic. Various solutions have been tried. Countries near the Rim simply loaded down the books of dead mages with leaden pentalphas and threw them over the Edge. Near the Hub less satisfactory alternatives were available. Inserting the offending books in canisters of negatively polarized octiron and sinking them in fathomless depths of the sea was one (burial in deep caves on land was earlier ruled out after some districts complained of walking trees and five-headed cats) but before long the magic seeped out and eventually fishermen complained of shoals of invisible fish or psychic clams”

The Colour of Magic, Terry Pratchett

Nada melhor do que uma imaginação fértil para restaurar a fé na humanidade e no poder que uma mente tem, ainda que fechada em casa, de viajar por mundos fantásticos.

Mergulha na Fantasia!

IDEIAS PARA NÃO PERDER O JUÍZO DURANTE A QUARENTENA (E QUE TAMBÉM RESULTAM NO RESTO DO ANO)

Muitas vezes ao longo da minha existência a fantasia salvou-me. Bruxas e cavaleiros, druidas e dragões mostraram-se companheiros infalíveis. Arrastavam-me para mundos fantásticos para onde os meus problemas não me podiam seguir. Mas isso não queria dizer que a vida lá fosse mais fácil.

Havia desafios incríveis, feitiços e batalhas e nem sempre o bem triunfava. Mas quase tudo é melhor do que lidar com as angústias existenciais da adolescência!

Comecei o ano a ler ficção, mas o que é que se passa com a ficção que se é boa é sempre triste? Só amores trágicos, pobreza, violência, desigualdade… Chega! Pra desgraça já chega o covid-19 e ter decidido mudar de vida este ano ahahah com a economia em recessão e o povo sem saber se vai poder voltar a viajar como antes! Ahahhah ah ah precisava de um escape antes que os parafusos pifassem de vez.

Discworld & Terry Pratchett

Até que me lembrei que tinha comprado o segundo volume de Discworld e ainda não o tinha lido porque queria reler o primeiro! Para quem não conhece, Discworld é uma colectânea sobre um mundo em forma de disco que assenta sobre quatro elefantes que por sua vez estão em cima de uma tartaruga gigante (Great A’Tuin) que viaja pelo universo. Para onde só ela sabe. Discworld está cheio de feiticeiros, malfeitores, druidas, malas que andam sozinhas e muito humor. Terry Pratchett faz muitos trocadilhos e o universo de Discworls é bastante original e desconcertante.

Para quem queira ter um vislumbre do humor de Terry Pratchett, recentemente foi adaptado para TV o livro “Good Omens” que ele escreveu juntamente com Neil Gaiman. O anjo Azaraphael e o demónio Crowley, ao longo de milénios de convivência na Terra, tornaram-se amigos. E, contra todas as expectativas, gostam demasiado dos humanos e querem impedir que o Apocalipse os destrua… Ao mesmo tempo que tentam com que os seus superiores hierárquicos não dêem por nada!

P.S. O David Tenant faz um Crowley excelente!

Além de Discworld, há muito mais no reino da fantasia. E há muito mais no reino dos livros. Desde que dei os primeiros passos pelas páginas, adorava as aventuras dos cavaleiros da távola redonda. Depois, as Brumas de Avalon. Depois Harry Potter e Senhor dos Anéis. E a par destes, os livros da “Uma Aventura”, o “Triângulo Jota” – de longe os meus preferidos por terem uma Joana e miúdos do Nuuuorte a resolverem mistérios. O Cavaleiro da Dinamarca de Sophia (que só depois de o reler em adulta percebi como cada palavra está no seu lugar e não há uma palavra a mais). O realismo mágico de Gabriel Garcia Márquez, a prosa mágica de Luís Sepúlveda, a originalidade do Evangelho e dos Ensaios de Saramago, a lucidez e o feminismo de Elena Ferrante… E podia passar o resto do dia nisto.

Há tanto mais pra descobrir. Vá à procura.

Leia, pela sua saúde!

Eu vou lendo pela minha…!