A saga do ski. O pimba contra-ataca*.

Estranho voltar ao Tirol agora. Especialmente no mundo pós- (durante) Corona. Fechada na minha caixinha, onde o ski… o que é o ski…? Skuuu… Skaaaa [a bater mal na quarentena]

Foi no Tirol que a saga do ski começou e foi no Tirol, numa estância de ski, que o Covid-19 se espalhou pela Áustria e Alemanha.

Naquele fim de semana de Fevereiro de 2019, nada fazia prever o que aí vinha, mas já não cheirava nada bem. A viagem começou no carro do Ken e isso era sinónimo de uma coisa: chulé intenso. Não que o Ken fosse a causa do cheiro, nada disso. Mas no carro dele iam TODAS AS BOTAS de ski do curso. 40 e tal botinhas a feder a chulé e nós fechados no carro com elas.

Comme d’habitude, começamos por fazer amizade com os skis na T-rope. Eu e a M. tínhamos desenvolvido um grave problema de skipizza** no fim de semana anterior e tínhamos de ser curadas. Ficamos com a Y. o dia todo a tentar livrar-nos da pizza. A fazer smiley hands (virar o corpo e as pontas dos bastões para a linha de queda como se tivéssemos smileys nas mãos), hard pole planking (cravar o bastão com força antes de fazer a curva), rider (colocar um bastão à frente como se segurássemos numas rédeas imaginárias e outro atrás como se chicoteássemos o rabo de um cavalo imaginário com o bastão, não é necessário, mas aconselha-se adicionar uns “yyyyy aaaaaahs” dignos do farwest).

Depois do almoço caiu um nevoeiro medonho. Dava pra ver D. Sebastião vestido de lycra a esquiar montanha abaixo. Mas nós, tal como o rei-soldado-desejado-adormecido não nos amedrontamos com uma neblitazita austríaca e desbastamos aquela montanha. Depois de descermos estoicamente a montanha, a nossa instrutora confessa-nos que estava cheia de medo de nos perder ou de nos magoar-mos por causa do nevoeiro. Humpf! Claramente ela não era feita da fibra portuguesa!

Sem a loucura que é o homem

Mais que a besta sadia,

Cadáver adiado que procria?

Poema “D. Sebastião, Rei de Portugal”, em Mensagem (1934), de Fernando Pessoa
D. Sebastião está algures aqui

E depois: aprèsski. Desta vez havia festa à brava. Música ao vivo! Um palco com um senhor a cantar e duas moças a dançar e a mostrar à multidão como se faz. Como isto se passa na Áustria, uma pessoa espera que a qualidade da música seja muito superior. Afinal é a pátria de Mozart, Schubert, Haydn… Mas digamos que desde que Mozart deixou de deambular por estes lados a música… mudou. E agora em vez de sonatas e sinfonias temos canções sobre… Johnny Depp (?)… e a mãe de Niki Lauda?

Apetece dizer: não havia nexe xi dade zzz. Ouçam e depois digam se não concordam que a televisão portuguesa ao sábado tem muito mais qualidade:

Johnny Depp???
Como se chama a mãe do Niki Lauda? Mama Lauda

Arrependo-me sempre de não ter perguntado a um falante nativo de alemão qual é o trocadilho com esta canção. Porque isto não pode ser uma música inofensiva sobre a mãe do Niki Lauda. Ou será que o problema é do nosso país onde a culinária e a agricultura podem ser temas altamente escaldantes? Não vou descansar enquanto não souber o que significa esta música sobre a mãe do Lauda…

Também não é como se tivesse muita coisa para fazer…

*Sim, estou a usar referências a filmes da Guerra das Estrelas de forma perfeitamente gratuita e sem ter nada a ver. Estou fechada em casa há demasiado tempo, dêem-me um desconto graaaande!

**Skipizza: colocar as pernas abertas em forma de V invertido de maneira a descer a montanha com uma falsa sensação de segurança. Problema: nunca se aprende a descer em condições assim, mas que é confortável e faz suar menos não há dúvidas! Mas a bem do desenvolvimento e progresso há que deixar a zona de conforto longe e pôr as perninhas paralelas.

A Saga do Ski. Episódio IV. Uma nova esperança.

Um novo dia se inicia. No último episódio contei-vos o drama da minha luta contra a encosta e o resultado. Uma semana depois penso que se calhar não devia ter exagerado tanto porque agora tenho de transformar este episódio num comeback incrível, uma coisa ao nível de, sei lá, quase todos os combates do Rocky, e não sei como vou fazer isso. Mas tentemos.

Era um novo dia: a new power was rising. Eu.

Fiquei no grupo do K. Fomos logo para a pista azul. Já não éramos nenhuns be-bés, be-bés (ler ao som de “Já Não Sou Bébé” de Romana).

PIsta azuuuuul!

O K. era muito fixe. Tornava os exercícios mais divertidos e trazia muito bom-humor ao grupo. O que era óptimo porque nós éramos o refugo daquele curso. As criaturas que claramente não tinham nascido para descer encostas de neve graciosamente. Ou descê-las, pronto.

E hoje haveria novamente gravações das nossas performances. A manhã seria passada a treinar a descida do final da pista azul. No final da manhã o Ken ia tirar-nos fotos. (Jesus, o Ken outra vez. E com uma máquina fotográfica!)

Mas isto hoje tava a correr mesmo bem, nada de quedas, tava a conseguir dominar isto. Mas, claro, como o ultimo episódio nos ensinou, isso não é garantia nenhuma. No melhor pano cai a nódoa.

Lá chegou o temido momento, descer a encosta e enfrentar a objectiva do Ken. Na minha cabeça, como em todos os momentos em que preciso de reunir força mental, tocava o “Eye of the tiger“.

E… TRIUNFO! UUUH UUUUH WE DID IT (Sim, eu falo de mim no plural para acomodar as minhas várias personalidades).

Super confiante, continuei a minha caminhada elegante pelas encostas e ainda demos um salto a pista vermelha antes do almoço. E a confiança foi-se outra vez. Raisparta o ski! Além dum desporto de montanha isto é uma montanha-russa de emoções.

* PAUSA PARA ALMOÇO *

Depois do tacho voltámos à pista vermelha. À porcaria da pista vermelha.

O K. tinha muuuuuuita paciência connosco. Nós fartámo-nos de cair naquela pista. Mas ele não desistiu. E mais umas voltas, mais uns exercícios. E agora sem um bastão. E agora sem os dois. E agora sem dentes. Não, não foi o caso. Custou mas lá chegámos.

Depois de descer aquilo tantas vezes, lá engatámos com a coisa. E voilá! Gosto de esquiar! Uuuuh uuuuuh!

Sim, depois deste suspense todo foi isto que aconteceu. Tentei sacar um “Hobbit” e desdobrar este episódio em dois fantásticos episódios. Olhem, não deu.

E agora vou-me embora que tenho uma panela com coronavírus ao lume.

A saga do ski. Episódio III, a vingança dos skiths.

Sim, eu sei… que tudo são recordações… (cfr. Vitor Espadinha)

Não, o que eu queria dizer é: sim, eu sei… este blog anda mais parado que a VCI em hora de ponta. Histórias por acabar, outras que ainda nem começaram (de que vocês não fazem ideia mas eu faço e sei que as estou a procrastinar). Mas vamos ao que interessa.

A saga do ski.

Deixei-vos o relato dos primeiros episódios desta saga (genial na minha opinião) e sei que vocês, queridos leitores, anseiam por mais. (Não mintam. Eu sei)

Passado um ano depois disto ter começado, voltei à pista e sinto que é hora de encerrar este capítulo, pelo menos o relato, porque conto voltar à “cena branca”* muito mais vezes.

No último episódio desta saga, contei-vos como as minhas pernas sofreram terrivelmente por causa das botas. Este novo episódio começa precisamente a tentar resolver isso. Eu e outra criatura que também tinha dói-dóis nas pernocas (mas não tinha admitido a ninguém (#machoman #heróidapista) encontrámo-nos novamente na cave do Ken para encontrar novas botas.

Encontrei rapidamente um par que não me torturava, umas botas lindas, saídas dos anos 80, roxas e brancas – a inveja da Barbie. Uma categoria. As minhas fiéis companheiras de futuros fracassos e sucessos.

E na próxima sexta repetiu-se o ritual. Encontro em Quiddestr., viagem de carro para a Áustria, jantar, paleio, caminha… zzZZZZzzzZZZ

No sábado bem cedo acordámos para este cenário:

E logo logo estava na hora de fazer amizade com os skis outra vez. Recomeçamos na pista dos bebés que, continuo a afirmar, é super íngreme! E depois passamos para a pista do lado porque era hora de usar os BASTÕES!

Oh a alegria!
Finalmente algo a que me agarrar.

Um amigo 
na hora de cair 
e levantar...

Lá passamos a manhã a descobrir como se crava o bastão na neve e quando, e agachar e pular etc, etc & tal. Também repetimos uns Meg Ryans e Monica Lewinskis (já não faço ideia o que era este último mas não devia abonar muito em favor da Monica…)

pista ao lado da dos bebés

Depois passámos para a pista azul. Finalmente uma pista a sério. Com uma gondola e tudo! E assentos aquecidos!

Andámos nesta até ao almoço. O S. deixáva-nos fazer a free run/Schuss** em ski paralelo até meio e depois o resto era ir em frente, benzer-se e rezar. Saltei muitos batimentos cardíacos., mas fui vencendo o medo…

Antes do almoço ainda houve tempo para treinar a descida pro Ken. Depois do almoço ele ia filmar-nos para ver a nossa evolução. Oh yeah, ansiava por ser filmada a esquiar…! NÃO.

* PAUSA PARA ALMOÇO *

(telhado do restaurante)
vista para a pista vermelha

* CONTINUAÇÃO *

REC. A gravar!

Ok, aqui vamos nós. Nós preparámo-nos para isto. O dia está a correr bem. Nada de quedas para já. É só continuar o bom trabalho.

E depois: £§$%€$%?=#@

Caí. No exacto momento em que o Ken estava a filmar. Imortalizado para sempre em VHS: eu a esbardalhar-me lentamente numa pista azul. Depois de ter feito aquela porcaria montes de vezes, sem nódoa. PUMBA.

Estava feito. Acabou-se. Restava-me adormecer a mágoa com glühwein chunga no aprèsski e esperar que o jantar passasse depressa.

Apesar do delicioso frango assado no meu prato, o jantar foi azedado pela visualização dos vídeos.

O Ken passava os vídeos em câmara lenta (como/e) na TV do restaurante e parava muuuuuuitas vezes para dissecar todos os movimentos e dar conselhos. E eu a ver a minha vida a andar pra trás. Só rezava para haver muita gente a cair. Definitivamente não queria ser a única.

Não houve. Mas houve um tipo que não só caiu como também abalroou uma fila de crianças. Uff. Menos mal. A minha não pode ser pior que esta!

E depois chegou a minha vez. O meu vídeo. Eu a deslizar pela montanha (de maneira irrepreensível, achava eu) e o Ken a apontar defeitos. Mesmo antes de eu cair. E eu que achava que me estava a sair tão bem! A queda até já nem era o pior. O pior era a ilusão de ter conseguido dominar aquelas coisas escorregadias.

(Sim, eu sei Vitor… é triste viver de ilusões)

E depois o Ken, ainda a analisar a minha performance videográfica vira-se e diz: “Aquilo ali é medo!”

A SÉRIO KEN? ACHAS MESMO? Me-do? Eu? Eu adoooooooro velocidade! E perder o controlo então?!

Claramente andei a laborar em erro naquela montanha. Aqueles skis idiotas deixaram-me ficar mal. Mas amanhã era outro dia! E a vingança seria gelada.

-10º C pra ser exacta.

*cena branca=neve. Não confundir com cocaína.

**free run: uma descida acentuada na pista que é suposto fazer a toda a brita. As free runs são seguidas normalmente de rectas grandes ou subidas ligeiras para perder velocidade.

Joana vai à neve. O sku. (ii)

Eu acreditava que a cena das pernas era temporária…

Que durante a noite, milagrosamente, as minhas células se unissem como num anúncio de medicamento e juntas combatessem as pisaduras e regenerassem as minhas canelas. Isso não aconteceu. Quando calcei as botas, mal podia andar. E quando partilhava a minha dor, toda a gente dizia, a marimbar pra dor alheia, que “é normal”, “é sinal que tás a fazer bem os exercícios” “não há nada que a gente possa fazer! AGUENTA BEBÉ! Ahahahah que queridos!

Mas afinal dava pra fazer alguma coisa. O S. desapertou-me as botas com uma chave de fenda e soltou os fechos (coisa que ninguém se tinha lembrado nas outras 24h….). Isso aliviou, mas o estrago estava feito. Os meus queridos ossinhos não estavam contentes.

Começamos a repetir os exercícios de sábado. Tinman, hand granade, as paragens, mijar no poste… e no fim da manhã fizemos uma corrida na pista dos bebés! Esta foi a parte mais divertida! Mas raios, as pernas doíam. Quando parava sentia os ossos a serem estrangulados pelas botas. Acho que foi a única vez em que me doeram as canelas, desde que com 5 anos me esbardalhei na Capicua 303 de Santa Catarina e esfolei as pernas todas nos degraus enquanto escorregava pela loja adentro (os Bolton* teriam gostado do aspecto das minhas pernas depois!). Mas desde esses tempos, eu e as minhas canelas temos tido uma relação bastante pacífica e a maior parte das vezes nem me lembro que elas lá estão. Só quando esbarro em qualquer coisa.

E assim se passou a manhã a tentar ignorar a dor nos ossos.

Depois do almoço, shit just got real (=foi a doer)

Fomos para outra pista, inacreditavelmente íngreme, acessível apenas pela “T-rope”. A T-rope é basicamente uma picareta pendurada numa corda. As picaretas estão penduradas numa corda, a pessoa puxa a picareta pra si e coloca um dos lados abaixo do rabo – e não “debaixo”. Se forem duas pessoas, fica uma de cada lado e agarram-se ao cabo da picareta, que fica no meio das duas.

A T-Rope é uma coisa do demónio. Se uma pessoa cai a meio da pista não consegue subir sozinha (daí haver uma corda a puxar o povo), mas também não consegue voltar pra baixo. Os nossos instructores ensinaram-nos o que fazer não “se” mas “quando” caíssemos, tal era a confiança em nós. Por acaso ninguém caiu. EMBRULHEM!

Na outra pista e ainda sem bastões e, portanto, sem nada onde agarrar, lá tentávamos descer seguindo as coreografias do H. Eu bem tentava levantar e baixar e o caraças mas doíaaaaaaa. O H. bem dizia pra fazer assim e assado e curvar e baixar e levantar mas nada feito. Não conseguia imitar bem os movimentos por causa das dores nas pernas, por isso caía mais vezes. As quedas cansam, doem e geram ainda mais dor – isto tudo criava uma bola de neve (mais neve!) de repetições dolorosas. A meio da tarde encostei pra canto.

Juntei-me aos outros enfermos na box do Rockbar. A moral não andava em alta por aqui: povo com joelhos torcidos, derrotados pelo primeiro fim-de-semana de ski e a Mary. A Mary tem 70 e tal anos e estava a aprender a esquiar, só que durante a tarde ficava cansada e tinha de parar. Desistir à beira da Mary parece mal. Mas a Mary é incrível. Trocámos histórias sobre as nossas maleitas, números de telefone e fiquei com dicas para uma próxima visita a Gales (obrigada Mary!)

O Aprèsski hoje era no Grander Schupf. Para chegar lá é preciso apanhar a gôndola e pra descer vem-se de ski ou sku. Eu e o restante grupo de lesionados fomos de carro. A viagem não foi isenta de aventura, a rua estava completamente entupida de neve e a certa altura havia um carro a descer e o nosso e mais outro a subir – drama, horror & tracção às quatro rodas.

Chegados ao Grander Schupf, fomos recebidos com olhares de pena e comiseração por alguns que tinham continuado a esquiar até ao fim. E por comentário como “a mim também me doía mas não desisti”, “oh meu deus, houve pessoas que vieram de carro!” e #meudeuseunaodesistonuuuunca, #eusouumamaquinadeguerra, etc.

A esta gente, que teve o privilégio de descer a pista de noite e de cu eu relembro as sábias palavras de Ana Malhoa em “Turbinada“:

“Sou uma máquina sim, la máquina de fiesta! SUBELO!”

E agora vou pra casa pôr Hirudoid nas pernas. Até ao próximo fim-de-semana.

*Bolton: se não sabes quem são os Bolton, pesquisa “Guerra dos Tronos”. Se acabaste de revirar os olhos vai ouvir Ana Malhoa. AZUCAR pra ti!

Joana vai à neve. O sku.


Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2019. A noite era fria e cheia de horrores.

Quem me dera! A noite era muuuito quente e eu não conseguia pregar olho. Presa numa quinta em Griesenau, lutava contra o edredão/cobertor/lençol. Uma peça polivalente que provavelmente funcionava melhor quando os alemães não tinham telhado nas casas. Não funciona, DE TODO, quando há: 1 telhado + 5 moças + aquecimento central.

E às 7h tocou o despertador. Pequeno-almoço e toca a ir pra montanha. Mesmo o que me apetecia fazer depois de uma noite de insónia. Mas o ski não espera e o Ken muito menos.

Chegámos a Eichenhof em meia hora. Calçámos as botas, ajudámos a descarregar o material e fomos esperar pelo nosso instrutor. O S. avisou que ia demorar 5 minutos. O pessoal começou a panicar ao ver que os outros grupos já estavam a pôr os skis nos pés E NÓS IAMOS FICAR PRA TRÁS E DEVÍAMOS COMEÇAR A VER COMO ELES FAZIAM E TENTAR PÔR OS SKIS…! (Pequeno esclarecimento: os meus companheiros eram todos maiores de idade). Finalmente o S. lá chegou – mesmo a tempo de evitar um colapso nervoso geral -lá pusemos os skis e começámos a fazer uns exercícios simples: deslizar com os skis, jogos de estafeta e repetir.

(As minhas canelas começaram a sentir uma ligeira pressão).

Depois fomos pra pista dos bebés (sem nós, a média de idades devia andar nos 4 anos). Crianças com skis maiores que elas deslizavam alegremente e sem medo. (Os nossos skis tinham em média 70cm).

Nessa pista assustadoramente inclinada (ERA MESMO MUITO INCLINADA coff coff) começamos por apanhar o “elevador de corda” – esta coisa que se vê aqui em baixo do lado direito onde as pessoas se agarram e depois são puxadas montanha (=lomba) acima. Um dia inteiro agarrado ao raio da corda faz mossa nas mãos e principalmente nos ombros. É horrível ser aprendiz.

Depois de chegarmos lá acima, agarrámo-nos em filinha ao S., todos ensanduichados uns atrás dos outros enquanto ele fazia (e nós não tínhamos opção se não fazer também) sssss até lá abaixo.

Próximo exercício: agarrar um pau de vassoura, o S. no meio e 2 de cada lado a fazer curvas encosta abaixo. Depois o mesmo mas a agarrar a mão do colega do lado.

Depois os instrutores montaram uma espécie de circuito de exercícios. Treino de paragem: deslizar e travar pro lado que o instrutor apontava e, se corresse mal, ser aparado por eles! Uma mini pista de slalom onde se treinavam vários exercícios:

  • Tinman (homem de lata): deslizar pelos obstáculos com o corpo direito e os braços abertos;
  • Piss on the pole (literalmente mijar no poste): levantar o ski do lado do meco;
  • Hand granade (granada de mão): imaginar que temos uma granada entre as pernas e a língua das botas e pressionar as língua com as canelas para a granada não explodir (as minhas canelas começaram a doer);
  • Bounce (pular): chocalhar-nos todos, flectindo os joelhos enquanto contornamos os cones;
  • Ciclope: contornar os obstáculos com o corpo virado para a linha de queda.

E depois puseram uma corda no chão numa linha a unir todos os obstáculos e a coisa complicou-se!

No lado mais alto desta inacessível montanha colocaram outros obstáculos. Estes:

Objectivo: passar pelo meio dos postes verdes com o corpo levantado e contornar os laranjas pelo lado de fora. Parece super simples, mas não é. As curvas têm de ser feitas inclinado os braços pro lado oposto. Ou seja, se a curva é pra esquerda, é preciso esgueirar pra direita e apontar os dois braços pro lado direito. E vice-versa. E a neve escorrega. Muito!

E depois uma pessoa acaba com um meco no meio das pernas e ninguém faz nada pra ajudar. Ou a pessoa continua a deslizar e abalroa 3 mecos duma assentada até esbarrar num instrutor ou num colega e, mais uma vez, ninguém ajuda.

E ouve-se muita piada sobre gostar de paus e tar sempre a cair em cima deles e há muita risota à mistura!

E tenta-se outra vez. E a manhã passou-se assim.

(Ao almoço, as canelas doíam que se fartava. Quis tirar as botas mas tive medo que as pernas inchassem e nunca mais as conseguisse calçar)

Aguentei durante a tarde (passada a repetir os exercícios da manhã) até ser hora do Après Ski.

O Après Ski (literalmente, “depois do ski”) foi passado em Griesenau, na quinta. As regras determinam que uma pessoa não pode tomar banho até passar o Après Ski (que normalmente tem lugar na estância de ski). Daí que quem se quis livrar do cheiro a cavalo acabou brindado de gritos de “SHAME!” “SHAME!” pelo resto do povo quando voltou à sala de jantar.

E com um bife de veado no bucho e morta de cansaço terminei o dia a dormir como um anjinho.

Salzburgo. Parte 1

Então na última semana tive a brilhante ideia de planear uma visita a Salzburgo no sábado. Tudo parecia de feição: bom tempo (por aqui é uma coisa que se valoriza muito), um Bayern ticket pra me levar e trazer de volta por 25 mocas. Tudo, até sexta-feira à noite. Cheguei suuuuuper cansada a casa, vinda duma maratona de compras no centro da cidade que prometia juntar-me a uma blusa branca. Uma tarefa aparentemente simples. Impossível. Depois de percorrer todas as lojas de roupa (que não começavam nos €50) vim-me embora com umas leggings, uma blusa azul e um pack de pezinhos. E a última coisa que me apetecia era levantar-me cedo no sábado e amandar-me pra Áustria. Mas que remédio…! Blogger sofreeeee :p

6h45 e eu a pé. Nem à semana me levanto tão cedo! Ainda noite lá fora. As minhas perninhas ainda não refeitas da caminhada do dia anterior clamavam por mais horizontalidade mas não há tempo pra isso! Ala pra Hauptbahnhof (=estação central). Chego à estação, identifico o quim escolhido e instalo-me. Lugar à janela, pouca gente, promete! E eis que, 10 minutos antes da partida o altifalante do comboio grunhe: “Atenção senhores passageiros, lembramos que o Bayern ticket não é válido pra este comboio”. Whaaaaaat? Eu, mais uns alemães e a sua grade de cerveja lá saímos do comboio. Eles ainda me ofereceram uma, mas pra mim ainda era só hora de meia de leite.

Lá fui às informações ver qual era o comboio que podia apanhar. Partia em 40 minutos. Por descargo de consciência fui ver onde era o cais. Já lá estava o comboio. E cheioooo de gente. O comboio anterior tinha faltado! Ainda encontrei lugar sentado. Evitei por pouco 2h de pé até à Áustria. Quando lá chegasse tinha as pernas azuis! Que agradável maneira de começar o fim de semana!

Às 11 e qq coisa chegamos a Salzburgo. Pra quem nunca foi à Áustria eu vou tentar mostrar-vos como é através dum desenho (e porque as fotos não ficaram grande coisa!)

Lembram-se daquele fundo do Windows 00? É a Áustria…

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Só campos verdes, lisinhos. Todas as ervinhas têm exactamente o mesmo tamanho. Não há uma folha fora do sítio.  Ou que tenha crescido mais ou menos que as outras companheiras-folhas. Dito assim parece muito comunista ou mais pro outro extremo politico. De qualquer maneira, a natureza austríaca parece-me tudo menos moderada.

Como dizia, para imaginarem a Áustria, pegam no fundo do Windows 00. Depois adicionam umas vacas:

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Igrejas:

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E têm a Áustria.

Pra Salzburgo falta um Mozart e suas “esferas”:

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Em Salburgo fiz uma walking tour (=uma visita guiada) de quase 3 horas! Em alemão. Não havia ninguém para a de inglês e a senhora guia disse que depois traduzia. No início não foi preciso. Depois foi preciso mas é ingrato perceber numa língua que às vezes não percebemos, onde é que deixamos de perceber. Tipo: “ahh depois do $/&%€€§§%&£§ não percebi nada do que disse”, -“quê?”, “isso mesmo, não consegui perceber onde deixei de perceber, porque não percebi a palavra que não percebi, percebeu?” Portanto há uma parte do tour que continua uma incógnita pra mim. Cada uma das afirmações abaixo pode ou não ser verdadeira :

– Mozart era baixo

– Mozart viveu com três mulheres em Viena

– Mozart apaixonou-se por uma delas

– Mozart apaixonou-se pela filha da sua senhoria

– A filha da senhoria era umas das três mulheres que morava com Mozart

– Tudo o descrito acima aconteceu ao pai de Mozart

Depois desta caminhada extenuante misturada com árduo trabalho mental precisava de qualquer coisa docinha. Óptima desculpa pra comprar Mozartkugeln. Pode-se traduzir como bolas de Mozart mas é feio. Deve dizer-se antes “esferas de Mozart”. “E o que são?” perguntais vós. Ora, são pequenas bolinhas de nougat recheadas com maçapão de pistácio. Sim, eu disse maçapão. Sim, tou a falar daquela coisa que sabe a Amarguinha, se uma amarguinha tivesse caído numa forma de bolos. Sim, eu sei jovem… Sim, sabe mal. É horrível. Ninguém percebe o propósito do maçapão.

Mas jovem! Este é diferente! Prova as esferas do Fürst e não te vais arrepender. O rácio de chocolate para maçapão está, felizmente, desequilibrado pro lado do chocolate. E os pistácios melhoram e muito o sabor desse ingrediente funesto.

Portanto, se forem a Salzburgo não se esqueçam de visitar o Fürst e comer suas pequenas kugeln. (E levem dinheiro!)

Antes do comboio um strudel com chantily. Bom, mas espero por um strudel que me blowe a mente. Estarás em Viena? Strudels deste mundo, ouvi-me! Respondei ao meu apelo!

E depois vim-me embora que já não podia mais das pernas. (Sim, eu sou uma senhora de sessenta anos presa num corpo de trinta.)

Na viagem de regresso entrei no comboio certo mas fiquei claramente no lugar errado. A criatura que vinha atrás de mim passou a viagem inteira a falar. Alto. No início fazia pausas de alguns segundos – só pra me dar a falsa esperança que ia parar. Mas nunca parava! Que performance admirável. Mais de duas horas de monólogo ininterrupto. E eu com os meus ouvidinhos completamente despidos e nas mãos o “Berlim. Alexanderplatz” que não distrai ninguém. Pelo contrário, uma pessoa é constantemente distraída pra fora do livro até por um saco plástico a voar. (American Beauty lembram-se?). E com esta imagem bonita termino por hoje. Um grande bem-haja a todos!

***

Viagem de regresso. Notas para o futuro:

1.º Mandamento do viajante de transportes públicos: Viajarás sempre com um título válido de transporte e verificarás com antecedência em que veículos o teu título pode ser utilizado.

2. Mandamento: Nunca, mas nuuuunca viajarás de transportes públicos por tempo prolongado sem protecção auditiva!

***

FIM