Estranho voltar ao Tirol agora. Especialmente no mundo pós- (durante) Corona. Fechada na minha caixinha, onde o ski… o que é o ski…? Skuuu… Skaaaa [a bater mal na quarentena]
Foi no Tirol que a saga do ski começou e foi no Tirol, numa estância de ski, que o Covid-19 se espalhou pela Áustria e Alemanha.

Naquele fim de semana de Fevereiro de 2019, nada fazia prever o que aí vinha, mas já não cheirava nada bem. A viagem começou no carro do Ken e isso era sinónimo de uma coisa: chulé intenso. Não que o Ken fosse a causa do cheiro, nada disso. Mas no carro dele iam TODAS AS BOTAS de ski do curso. 40 e tal botinhas a feder a chulé e nós fechados no carro com elas.
Comme d’habitude, começamos por fazer amizade com os skis na T-rope. Eu e a M. tínhamos desenvolvido um grave problema de skipizza** no fim de semana anterior e tínhamos de ser curadas. Ficamos com a Y. o dia todo a tentar livrar-nos da pizza. A fazer smiley hands (virar o corpo e as pontas dos bastões para a linha de queda como se tivéssemos smileys nas mãos), hard pole planking (cravar o bastão com força antes de fazer a curva), rider (colocar um bastão à frente como se segurássemos numas rédeas imaginárias e outro atrás como se chicoteássemos o rabo de um cavalo imaginário com o bastão, não é necessário, mas aconselha-se adicionar uns “yyyyy aaaaaahs” dignos do farwest).
Depois do almoço caiu um nevoeiro medonho. Dava pra ver D. Sebastião vestido de lycra a esquiar montanha abaixo. Mas nós, tal como o rei-soldado-desejado-adormecido não nos amedrontamos com uma neblitazita austríaca e desbastamos aquela montanha. Depois de descermos estoicamente a montanha, a nossa instrutora confessa-nos que estava cheia de medo de nos perder ou de nos magoar-mos por causa do nevoeiro. Humpf! Claramente ela não era feita da fibra portuguesa!
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Poema “D. Sebastião, Rei de Portugal”, em Mensagem (1934), de Fernando Pessoa

E depois: aprèsski. Desta vez havia festa à brava. Música ao vivo! Um palco com um senhor a cantar e duas moças a dançar e a mostrar à multidão como se faz. Como isto se passa na Áustria, uma pessoa espera que a qualidade da música seja muito superior. Afinal é a pátria de Mozart, Schubert, Haydn… Mas digamos que desde que Mozart deixou de deambular por estes lados a música… mudou. E agora em vez de sonatas e sinfonias temos canções sobre… Johnny Depp (?)… e a mãe de Niki Lauda?
Apetece dizer: não havia nexe xi dade zzz. Ouçam e depois digam se não concordam que a televisão portuguesa ao sábado tem muito mais qualidade:
Arrependo-me sempre de não ter perguntado a um falante nativo de alemão qual é o trocadilho com esta canção. Porque isto não pode ser uma música inofensiva sobre a mãe do Niki Lauda. Ou será que o problema é do nosso país onde a culinária e a agricultura podem ser temas altamente escaldantes? Não vou descansar enquanto não souber o que significa esta música sobre a mãe do Lauda…
Também não é como se tivesse muita coisa para fazer…
*Sim, estou a usar referências a filmes da Guerra das Estrelas de forma perfeitamente gratuita e sem ter nada a ver. Estou fechada em casa há demasiado tempo, dêem-me um desconto graaaande!
**Skipizza: colocar as pernas abertas em forma de V invertido de maneira a descer a montanha com uma falsa sensação de segurança. Problema: nunca se aprende a descer em condições assim, mas que é confortável e faz suar menos não há dúvidas! Mas a bem do desenvolvimento e progresso há que deixar a zona de conforto longe e pôr as perninhas paralelas.